sábado, 22 de outubro de 2016

                                                       Primeiro disco do Pink Floyd

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Blues & Rock Progressivo

Apesar de usar normalmente acordes sinfônicos, orquestração típica da música clássica, longas passagens e composições etéreas, o estilo musical chamado de rock Progressivo deixa entrever a presença do Blues. Já existiram as nomenclaturas Art rock, rock sinfônico, psicodélico, experimental e space-rock para designá-lo. No entanto, é notória a influência do Blues-Rock, notadamente entre os anos 1960 e 1970, no seu desenvolvimento. Grupos como Procol Harum desde 1963, o Yardbirds (onde tocou Jimmy Page, fundador do Led Zeppelin), Quicksilver Messenger Service e Iron Butterfly, já desde meados dos anos 60, traziam versões de velhos blues em seus discos. Logo depois Vanilla Fudge, Small Faces (de Steve Marriott) e até o Yes do início (que se torna grande ícone progressivo depois), também mostravam possibilidades para ambos os caminhos na música.
Quando o supergrupo Cream é criado em 1966, influenciado no som por Albert King (ver último post: o Heavy Blues) e Paul Butterfield Blues Band, a identidade visual, a expectativa do público e o próprio nome da banda parecia indicar um caminho no Progressivo. Assim como acontece com muitas outras bandas, em vice-versa, passando do Blues-Rock ao Prog – e lançando as bases deste movimento cultural, com filmes de animação, roupas espalhafatosas e psicodelismo. Neste mesmo ano de 1966 os Beatles lançam disco, mas também filme: o experimental Yellow Submarine e no ano seguinte o definitivo álbum Sargent Pepper’s Hearts Club Band.  Em 1968, quando Jimi Hendrix lança o seu projeto “Experience”, as projeções de imagens abstratas atrás dos músicos já davam o toque cenográfico (muitas vezes feitas ao vivo por artistas plásticos, como Syd Barrett usava no início do Pink Floyd). Este mesmo que escolhe o nome dos bluesmen Pink Anderson (nascido em 1900) e Floyd Council (de 1911) para batizar sua banda.
No entanto, o que se viu depois, em meados de 1968, foi  a passagem de um desejo do público jovem, de uma moda, da indústria da música, do progressivo para o Blues-Rock, que até comercialmente falando, se traduz em uma explosão de inúmeras bandas. Pode-se explicar esse fenômeno por uma “volta às origens”, ao Blues originário, por grande parte dos músicos mais importantes. Muitos deles, vindos de formação em ‘jazz’ ou de alma ‘blueseira’, eram os mais proeminentes na composição, em cada banda.  Podemos citar Steve Hackett saindo do Genesis, Eric Clapton do Cream, Jeff Beck Group emerge do nada e Johnny Winter lança “The Progressive Blues Experiment”. Ainda em 1968, os Beatles se despedem com o disco blues-roqueiro “Abbey Road” e John Lennon, alguns discos após sair dos Beatles (e alguns voos experimentais com Yoko Ono) foi  em direção ao Rock’n Roll mais puro.
Em 1970 já ocorria então a “Explosão do Blues-Rock” (abordaremos num próximo texto). Jimi Hendrix criara o Band of Gypsys, numa orientação de som mais direto, com críticas à Guerra do Vietnam e até incorporando batidas funkeadas do Soul e Rythm’Blues. Quando foi preciso improvisar ao vivo, muitos guitarristas se mostraram muito mais afeitos aos riffs do Blues-Rock, solos rascantes e volume alto, com distorção e alguns gritos, para animar ainda mais a plateia. Esta plateia, que se acostumava a assistir aos concertos em lugares numerados e delimitados, no mundo do rock se viu numa situação nova, inusitada. O público incrédulo, ao mesmo tempo fascinado, foi pego de surpresa. Ao seu lado, um jovem sisudo ou uma senhorita comportada se transformava e passava a dançar em pé, sacudindo os braços e balançando os cabelos. Tinha muito da liberação dos sentidos e libertação do corpo, fenômeno recente no mundo ocidental. É o que a maioria dos relatos dizem da época, além do que os documentos em vídeo podem atestar. Num show do Deep Purple por exemplo (que tinha lançado dois discos claramente “sinfônicos” com o vocalista Rod Evans - este faria depois excelente disco com Captain Beyond, de 1972), o público, não sabia bem o que esperar ao comparecer e sem encontrar um ambiente repressor (pelo menos lá dentro – dependendo da orientação dos produtores), ao assistir à um espetáculo de Blues-Rock visceral se solta e diante daquela massa sonora, participa à transformação do espaço em um ambiente democrático, sem hierarquia, como nos atuais espetáculos em locais abertos. O Led Zeppelin foi o melhor exemplo e a maior banda neste sentido. Em certo show do Rolling Stones a situação chegou a extrapolar e brigas surgiram e até mortes ocorreram. Eles deram uma parada, na época.
Woodstock, o maior festival realizado nas Américas até hoje, foi idealizado como um encontro com a natureza e a música, em uma fazenda extensa, no interior dos Estados Unidos. Em 1969, o ambiente musical norte-americano continha muito “folk” – Crosby, Stills, Nash e depois com o jovem canadense Neil Young, demonstravam bem qual era o cânone a seguir. Além disso, se esperaria um som mais psicodélico, como já estava em voga na Europa. O “Krautrock”, um tipo de progressivo alemão (para citar alguns grupos: Can, Popol Vuh, Amon Düül e Neu!), fusão de vários estilos – rock+música oriental+hard+prog+blues+jazz, já conquistava os roqueiros mais cerebrais e hoje influencia o surgimento de diversos tipos novos de rock pesado instrumental (ver penúltimo post: Stoner/Doom/Psych/Desert-rock). Mas o que se viu em Woodstock, além de muitas outras manifestações culturais e comportamentais inovadoras, foi um Blues-Rock florescente, surgindo diante do público atônito. Jimi Hendrix, Janis Joplin, Santana – que trazia ainda um ritmo latino e muitos outros que lá se apresentaram, mostraram a direção que o Rock tomaria nos anos seguintes. The Who mostrou um som proto-punk ainda mais pesado.
Entre os muitos grandes grupos de rock Progressivo que usaram todas estas influências citadas acima, destaco a lendária banda escocesa Jethro Tull, os ingleses dos Genesis, King Crimson, Moody Blues, Emerson, Lake and Palmer (Keith Emerson era antes tecladista do Nice), Procol Harum (de 1963!) e Gentle Giant, Grateful Dead e Jefferson Airplane (EU), Gong (França), Harmonium, o power trio Rush (Canadá) e Focus (Holanda). E no Brasil: Os Mutantes, Secos e Molhados, o Clube da Esquina mineiro (de Lô Borges, Beto Guedes e Milton Nascimento) e Violeta De Outono nos anos 1980. Na década de 80 surgiriam algumas bandas que reviveram o som progressivo, trazendo novidade e um pouco mais de peso nas guitarras-teclados-baixo-bateria. Foi o caso do Marillion, Ozric Tentacles (ainda em atividade), Asia, assim como a volta do Emerson, Lake com Cozy Powell e do Yes (infelizmente faleceu o baixista-compositor Chris Squire este ano).
E  dentre tantas grandes bandas que fizeram o caminho inverso, deixando o Progressivo que experimentavam então pelo Blues-Rock, marcaram época (além das outras já citadas): The Doors (um dos maiores expoentes), Traffic (do Steve Winwood, depois fez o Blind Faith com Eric Clapton),  Camel, Whishbone Ash, Ten Years After, Le Orme (italiana), Atomic Rooster (onde começou Carl Palmer em meados de 1960) e Hawkwind (precursores do Space-rock, onde já tocou Lemmy antes de fundar o Motörhead). Nesta praia de grupos que foram para o Hard-Progressive Rock, existem bons exemplos, desde Born Again (de 1972), Néktar (1973), até Elf (1974, do vocal  Dio) e UFO. Sem esquecer o guitarrista Frank Zappa & The Mothers of Invention (misturando tudo numa carreira absolutamente inclassificável...)
Desde os anos 2000 e nos dias de hoje, podemos mencionar algumas bandas de grande qualidade que misturam os estilos musicais, em composições de mais de dez minutos e não se dizem representantes de nenhum gênero específico, mas de fato são Progressive-Blues-Rock, como predizia lá atrás o albino do Blues Johnny Winter. São denominadas hoje em dia por alguns críticos de Cosmic-Rock.  Liquid Visions, Mother Engine e Spacelords (alemãs), Lunar Dunes e Landskap (britânicas), Hidria SpaceFolk (finlandesa), Erudite Stoner (brasileira), Trip Hill (italiana), Yuri Gagarin e My Brother The Wind (suecas), Acid Mothers Temple (japonesa), Fungal Abyss, Gypsy Sun Revival e Eternal Tapestry (norte-americanas). Além de um guitarrista que passeia pelos estilos e toca com máscara, tendo sido 7 vezes eleito melhor do mundo, o alienígena chamado ‘Buckethead’.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

                                      Yes de 2013: "Fly From Here" (Capa:Roger Dean)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Gênese do Heavy-Blues


  1. Os ingleses das bandas de Rock’n roll The Rolling Stones, Animals, The Hollies - entre muitas outras, assim como The Beatles, já incluíam músicas com o andamento mais rápido, versões cover apimentadas de Blues antigos ou passagens instrumentais um pouco mais pesadas às suas discografias e prestações ao vivo, desde 1965, como por exemplo em “Satisfaction” dos primeiros e no disco “Rubber Soul” dos últimos. Em 1967, surge o Sgt.Pepper’s Lonely Hearts Club Band, disco dos Beatles que abre possibilidades igualmente para o surgimento do rock dito ‘Progressivo’.
  2. Albert King, assim como outros bluesman de carreira consolidada nos Estados Unidos, influenciava todos estes músicos, pois já vinha fazendo uso maciço da guitarra amplificada dentro do universo do Blues mais tradicional, desde seu hit “I’m a Lonely Man” de 1959(!). O power trio Cream, muito influenciado por ele, banda do escocês Jack Bruce (renomado baixista e vocalista) e Eric Clapton, até então o maior guitarrista branco, fez irrupção em 1966, trazendo um baterista chamado Ginger Baker – que somava batidas mais fortes ao Blues e ao Rock’n roll. Esta superbanda acabou cristalizando o novo estilo, chamado de Blues-Rock. Assim como faziam nos mesmos anos os americanos do Blue Cheer , que já tocavam versões pesadas de “Rock Me Baby” do B.B. King e “Summertime Blues”, cover de Eddie Cochrane, considerada a primeira música Heavy da história. No álbum de 1968: “Vincebus Eruptum”, foram definidos como grupo de Hard Boogie rock. Mas esta nomenclatura só durou alguns anos nos Estados Unidos. O termo que se firmou foi Blues-Rock mesmo.
  3. Dois anos mais tarde, quando o fenômeno meteórico Cream acabou, apenas algumas poucas bandas faziam um som parecido com o deles, encontrando muito sucesso.  Os ingleses do Humble Pie, tinham o guitarrista Steve Marriot, egresso do Small Faces (depois Faces, com Rod Stewart, Jeff Beck e Ron Wood do Rolling Stones); foram citados na TV BBC, em 1969, também como a primeira banda de Heavy sound, de onde se supõe que havia uma briga entre os dois países pela autoria do novo termo. 
  4. Em 1968, sai o álbum “Heavy” do Iron Butterfly, onde o termo aparece oficialmente em uma capa. Enquanto que o Vanilla Fudge, apontado como candidato a melhor banda do fim dos anos 60 dá uma pausa em 1970, dando espaço então ao Cactus, criado pelo seu ex-baterista, Carmine Appice, um que mais tarde fez carreira no Heavy-Metal. 
  5. E logo surge o Grand Funk Railroad  nos EU, onde já havia o Creedence Clearwater Revival fazendo sucesso, notadamente com uma versão de “I put a Spell On You”, do cantor negro de Rythm’Blues, um dos precursores do estilo vocal rock  Screamin’Jay Hawkins, arregimentando também o público da Country music
  6. Também havia muito peso da guitarra no projeto de Leslie West: o Mountain, além disso faziam sucesso as melodias e o ritmo contagiantes de um Steppenwolf  (do canadense John Kay, este ainda em atividade) e os grandes shows do Ten Years After (do furioso guitarrista Alvin Lee) marcavam terreno. Estes figuravam entre os mais pesados e entre os maiores grupos de Blues-Rock. 
  7. Porém, neste momento (1968-70) todos apontaram como figura de proa, até sua morte prematura, o novo projeto do inigualável guitarrista Jimi Hendrix, o Experience. Ele que foi não apenas um dos precursores deste estilo, mas de muitos outros, como por exemplo do Space-rock, o rock psicodélico (hoje chamado de Psych-rock), por onde já andava o seminal Pink Floyd.
  8. Enquanto isso o The Who se colocava entre as bandas precursoras do Punk-rock, num estilo mais cru. No entanto, por uma série de motivos, em 1969 o troféu de maior banda ficou com o inglês Led Zeppelin, talvez pelo carisma de seus integrantes ou por adicionar ainda mais decibéis à guitarra e ao vocal ou ainda pela extensão de suas turnês mundiais. Os 3 primeiros álbuns em sequência constituem o momentum do Blues pesado, o ponto alto e a partir de então deu-se origem ao Hard-Rock.

Stoner/Doom/Psych/Desert-Rock



O Blues deu origem  a diversos estilos, entre eles o Blues-Rock, o Hard-Rock e o Heavy-Metal. O fato é que depois dos anos 1980 esses estilos estavam quase esgotados. Com exceções do, por exemplo Gun's and Roses, os resistentes australianos do Ac/Dc e alguns poucos projetos (como o Stone Temple Pilots), além do Trash-metal de um Metallica. No entanto, nada de novo aparecia no horizonte do Rock pesado que realmente trouxesse um  sopro inovador.

Até surgir o que foi convencionado e chamado de Stoner-Rock. Nasceu um pouco depois dos anos 1990 e do movimento Grunge americano - que Neil Young inspirou, mas que continha muito da atitude e do som do Punk-rock também e que contava com bandas como Mudhoney, Screaming Trees, Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden – esses dois últimos ainda em atividade, só para citar os mais famosos. 

Além dos grupos já citados, que traziam todo um universo musical eclético, se somou a enorme influência dos riffs clássicos –lentos e pesados, com passagens de solos ‘bluesy’ da guitarra de Tony Iommi do Black Sabbath (o que também deu origem ao Heavy-Metal e a um atual subgênero chamado de Doom, geralmente instrumental).

Assim, viu-se hoje renovado o mundo do Heavy Blues-Rock, com sonoridades muito diversificadas, inúmeras bandas novas, de uma grande variedade de países que não cantam em inglês e que talvez por isso mesmo acabaram gerando uma música instrumental.

Ao criarem todo um ambiente independente, novos grupos pesados surgem a todo momento, buscando a originalidade e sua expressão mais autêntica no mundo da música de hoje, não procurando apenas vender milhões de discos (o que praticamente se tornou impossível com a internet).


Dentre as muitas bandas que trabalham hoje apenas o instrumental, criando ambientes em longas composições, pode-se apontar estas, de qualidade inegável:  
Colour Haze (uma das primeiras, no início dos anos 2000), Electric Moon, Kosmodron, Whalerider e Rotor (Alemanha), Tuber (Grécia)
Causa Sui e Papir (Dinamarca), 
Yuri Gagarin e Out of The Earth (Suécia), 
SpaceSlug (Polônia)
Lacertilia (País de Gales)
Squidlord, Black Lung e a clássica Earthless  (EU), Sloath (Inglaterra)
Re-Stoned - que está voltando (Rússia), 
Astrodomus (Portugal), 
The Machine (Holanda), 
Tristonus (Áustria)


Entre as bandas que trabalham com voz e letras, com uma música mais 'Rock'n roll', destacam-se os vários projetos do John Garcia (ex-vocal do Kyuss): Unida e Slo Burn por exemplo, assim como do seu ex-baterista Brant Bjork (Fu Manchu e Vista Chino) e, entre muitas outras de todo o planeta, aqui estão algumas que lançaram disco nos últimos anos, neste novo estilo, próximo do Metal: 

Domo e Horizon (Espanha),
1000Mods Naxatras (Grécia), 
Mountain Dust (Canadá), 
SpaceFisters (França),
Bautastor, Truckfighters (Suécia), 
Red Sun Cult (Colômbia), 
Muñoz e Tropical Doom (Brasil), 
Sun Mammuth (Portugal), 
Somali Yacht Club (Ucrânia), 
Red Mountains (Noruega), 
RamaGorilla Pulp e Violence of the Sun(Itália), 
Sun of Man (Austrália), Sleepy Door (Rússia),
Silent MonolithWo Fat, Cambrian ExplosionEgypt, Liquid VisionsWeird Owl, MountainWolf Naam (EU), 
Mammothwing (Inglaterra), Buried Sleeper (Escócia), Sonora Ritual, Naevus e o Samsara Blues Experiment (Alemanha).